Bonecos de Lula e Dilma enforcados ontem (15/03), mais um sintoma da intolerância na Política. // Foto: Carta Capital. |
Por Rafael Bruza
É importante deixar a ideologia de lado antes de realizar uma análise construtiva da manifestação de ontem (15/03).
É a única forma de manter o foco na melhora do geral país a partir do que já existe.
Qualquer outra postura minimamente partidarizada gerará críticas inúteis ou defesas exaltadas que não correspondem à generalizada necessidade de autocrítica do momento.
Limitar as análises do ato a comemorações ideológicas ou a interpretações que enfatizam a presença de uma “elite branca”, portanto, não são posturas adequadas para compreender a complexidade do movimento de ontem nem para entender o que fazer daqui para frente.
Os manifestantes de do dia 15 eram cidadãos comuns, no geral das classes média e altas, sim, que manifestaram seu descontento num ato democrático e legítimo – digo isso ignorando algumas posturas que não são naturais de protestos políticos e desconsiderando, também, as ações e intenções antidemocráticas de certos manifestantes.
De qualquer forma, esses mesmos cidadãos – presentes nas ruas em junho de 2013 - cada vez mais se interessam e exigem participação na Política.
Compartem esse sentimento com a Esquerda, que há muito tempo reivindica mudanças estruturais para solucionar sérios problemas do Brasil.
Então, se grande parte do povo – não pretendo discutir quem é povo ou não, pois considero que só existe um único “todo” - pede mais representatividade e participação, os políticos, intelectuais, jornalistas e demais atores políticos da sociedade devem se mobilizar para encontrar medidas e posturas que as aumentem. A responsabilidade inicial é deles.
Ponto.
Criticar como se fosse a pior manifestação do mundo ou exaltar cegamente como se fosse a melhor não ajudará a melhorar o nível de educação política ou de participação da sociedade nas decisões públicas do país. E a carência desses elementos contribui em grande escala para a crise política do Brasil.
Urge, portanto, encontrar posturas que aumentem os níveis de cultura política equilibrada, pois há muito tempo os atores políticos vêm tomando justamente o rumo contrário, que leva à polarização extrema e irracional.
Consumidos pela sede do período eleitoral, a sociedade mais uma vez foi “programada” pela intelectualidade e pela mídia – dois grandes formadores de opinião - para ser exclusivamente favorável a um dos partidos maioritários do país. Isso acontece em todas as ideologias e se mantém em menor medida até hoje.
Algumas pessoas se mantiveram neutras e hoje, cansados da Política, criticam os dois lados.
Mas outras chegam a níveis de partidarismo que afetam o bom senso, virtude absolutamente necessária na interpretação de fatos e da realidade.
Com isso, a polarização política cresceu junto com o fanatismo e a ideologia cega, que apontam ideias imediatas e superficiais - como “o fim da corrupção” ou “o Impeachment de Dilma” – para solucionar problemas sociais, econômicos e políticos gravíssimos.
E é exatamente por isso que convém deixar qualquer partidarismo de lado na hora de realizar uma análise crítica construtiva. Hoje ele conduz à raiva e à oposição inflexível. Justamente o contrário que a sociedade necessita.
Sendo de Direita ou não, a manifestação de ontem deixou explícita – novamente – a necessidade de mudança, de avanço.
Mas quem chamará a responsabilidade para si, buscando desinteressadamente algumas formas de renovar a estrutura política do país?
A Esquerda, segregada e desgastada, tem dificuldades em assumir esse discurso. Com a extrema polarização política do país, se limita a criticar atos da Direita, do capital financeiro e do Governo do PT. Precisa reorganizar ações e ideias para segurar a ascensão conservadora, que vem travando a maioria das medidas que propõe.
Aliás, um inciso: os progressistas podem criticar e ridicularizar a manifestação Direita, mas hoje os conservadores estão com melhor capacidade de organização e de exposição de bandeiras. Claro que eles contam com ajuda da Grande Mídia, mas esse fato não deve ser usado de desculpa, pois o problema não é a força da Direita, mas sim a fragilidade da Esquerda.
Voltando ao tema, a Direita continua dando mais importância à estratégia traçada para chegar ao poder – seja no Executivo em 2018 ou no Legislativo agora – e com isso não optam por canalizar o desejo de mudança de seus eleitores propondo alternativas ao modelo atual.
Ou seja, com as duas grandes forças políticas centrando suas energias somente no poder, a sociedade continua “sozinha”, sem representantes para seus anseios.
O resultado desse individualismo? Polarização, crise de representatividade, de legitimidade e de participação na Política.
E mesmo que não exista esse tipo de representante entre os que foram eleitos para esse trabalho, ele poderia aparecer de outras formas.
Com sua prosa fina e seu grande potencial de persuasão, jornalistas e intelectuais de diversas instituições politicamente ativas conseguiriam canalizar essas intenções de mudança para chegar a objetivos concretos que melhorariam a política nacional.
Porém, mais uma vez, continuam mais preocupados em exaltar suas próprias ideologias, num contraste ideológico cujas hostilidades não têm fim, deixando de lado o bem maior, que, no fundo, engloba absolutamente todos os posicionamentos políticos dos Brasil.
Então é preciso superar as limitações atuais.
Quebrar esse modo de ver a Política.
Acabar com estereótipos ideológicos e tendenciosos que só estreitam a visão dos fatos.
Enfim, todos os atores políticos da sociedade devem realizar uma autocrítica para entender o que está errado e o que deve melhorar.
Política é controversa, polêmica e conflito de interesses.
Mas não adianta só reclamar da posição do outro. É preciso atuar corretamente.
Se ela te desagrada, tome uma atitude diferente e dê o exemplo!
Oposição política é natural, necessária e saudável para a Democracia. Mas hoje o Brasil vive a beira do ódio. E não há um ou dois culpados. Tudo é consequência do momento político passado e atual.
Para melhorar esse panorama, as pessoas necessitam se equilibrar. O discurso tem que ser amenizado. E o debate com profundidade deve triunfar diante dos ataques recíprocos dos dois lados da polarização.
Por isso começo esse texto dizendo que devemos apartar partidarismos para realizar uma análise construtiva. Isso vale para a manifestação ou qualquer outra interpretação da realidade atual.
A Reforma Política começará com uma “reforma intelectual” dentro do país. Essa reforma intelectual nada mais é que deixar de lado a oposição cega para abrir espaço ao bom senso. É simples assim.
O desejo de transformar o país existe, agora, o Brasil, de forma geral, encontrará meios que surgem do debate de ideias, da formação isenta de opinião e da discussão política equilibrada dentro da sociedade.
Mas, para isso, os cidadãos, intelectuais e jornalistas têm que deixar intrigas e hostilidades de lado. Os políticos não o farão, então é preciso tomar a iniciativa.
Porque, se continuar assim, além de sermos todos cegos e banguelas, continuaremos no mesmo sistema político de hoje, com as mesmas insatisfações, problemas e reclamações de sempre.
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