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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Quem manda é a torcida: time permite que torcedores participem do jogo





Sporting Kansas City, da liga norte-americana, investe em tecnologia para o torcedor, com celular na mão, virar parte do espetáculo

No estádio do Kansas, o gol é mesmo um mero detalhe
No estádio do Kansas, o gol é mesmo um mero detalhe / Crédito: 
AP


Seu time é líder do campeonato e jogará em seu caldeirão contra uma equipe que vem complicando jogos para os adversários. Ingressos comprados há meses, você sai do centro da cidade e em 15 minutos estaciona o carro em frente ao estádio. Como faz frio, muita gente veste jaquetas e cachecóis com as cores do time. Achar seu lugar é fácil e a atmosfera é eletrizante: a acústica do estádio amplifica o barulho da torcida, e há tempo para aproveitar a rede wi-fi gratuita de alta velocidade para conferir a escalação, fazer comentários no blog da equipe, acompanhar o que os jogadores postaram nas redes sociais e enviar mensagens de incentivo pelo Twitter. Mensagens que, em instantes, aparecem no telão.
Esse cenário pode parecer utopia para o torcedor brasileiro, mas é realidade em Kansas City, no meio-oeste dos Estados Unidos. Num país em que o futebol está longe de ser campeão de bilheteria, o Sporting Kansas City se destaca dentro e fora das quatro linhas. O atual líder da Conferência Leste da MLS (Major League Soccer) esgotou os ingressos de seus últimos 31 jogos em casa e é um sucesso no relacionamento com a torcida. Essa história, porém, era muito diferente há bem pouco tempo.
Com os investimentos em tecnologia, o estádio do SKC passou a ficar assim: totalmente lotado
Com os investimentos em tecnologia, o estádio do SKC passou a ficar assim: totalmente lotado / Crédito: 
Divulgação Kansas City
Em 2006, quando Robb Heineman, veterano do mercado financeiro especializado em investimentos em internet, se tornou CEO do Sporting Kansas City (então Kansas City Wizards), a equipe tinha a pior média de público da Major League Soccer (MLS), o campeonato local: menos de 10 000 pessoas. Deprimente para quem tinha de utilizar o estádio do time de futebol americano Chiefs, com 77 000 lugares. Sete anos depois, o time conta com um estádio próprio (19 000 torcedores), vendeu todos os camarotes para a temporada e tem lista de espera por ingressos. Sua arena e os investimentos para transformar a experiência de “consumir futebol” fizeram do Sporting Kansas City uma das empresas mais inovadoras do esporte americano.
Inaugurado em junho de 2011 a um custo de 200 milhões de dólares, o Sporting Park nasceu para ser uma arena de eventos dos mais variados tipos. O estádio pode ser adaptado para shows, com 25 000 pessoas sentadas, e já recebeu artistas como Willie Nelson e Dave Matthews. O complexo esportivo, que também conta com os escritórios da Cerner Corporation, empresa de tecnologia especializada em saúde que é acionista do clube, está localizado ao lado do autódromo Kansas Motor Speedway e de um grande shopping center, atraindo cerca de 2,5 milhões de visitantes por ano, número semelhante aos do Arrowhead Stadium (sede do Kansas City Chiefs, de futebol americano) e do Kaufman Stadium (Kansas City Royals, de beisebol) juntos.
No estádio, uma rede de internet wi-fi de alta velocidade oferece ao torcedor a possibilidade de ter uma experiência mais interativa e personalizada usando tablets e smartphones. “Desde o início da construção do estádio, tivemos reuniões semanais com a equipe responsável pelo projeto para desenvolver uma experiência inesquecível para os torcedores, não apenas dentro do estádio, mas também considerando a chegada e a saída”, comenta Rob Thomson, vice-presidente executivo de comunicações do clube.
O uso de tecnologia para oferecer vídeos em alta definição para usuários de tablets e o desenvolvimento de aplicativos que permitem utilizar os celulares como ingresso se tornaram referência em estádios no país. Mais de 320 telas de TV estão espalhadas pelo Sporting Park e possibilitam que os torcedores não percam um lance, mesmo ao comprar uma cerveja ou ir ao banheiro.
BOLA NA REDE
O time é um exemplo de bom uso das redes sociais. Quem envia mensagens pelo Twitter para o perfil do clube (@sportingkc), por exemplo, tem seus posts apresentados no telão. “Esse recurso, sozinho, aumentou em 20% o número de mensagens enviadas para nós”, afirma Thomson. Todos os jogadores têm perfil no microblog e a direção do time fala com a torcida pelas redes sociais diariamente, apresentando notícias e pedindo opiniões. O site www.sportingkc.com tem um blog com podcasts sobre as partidas, vídeos e entrevistas com os jogadores. “Estamos presentes em 59 canais de contato online, entre perfis no Twitter, YouTube, Facebook, Instagram, Storify, Google+, blogs, podcasts e outros”, diz Rob Thomson. Sua presença digital é segmentada entre time principal, categorias de base, eventos, dia de jogo e produtos, criando diversas oportunidades de relacionamento com os fãs.
O que o torcedor encontra no estádio
O que o torcedor encontra no estádio / Crédito: 
Céllus
Com aplicativos para smartphones, o clube ganhou subsídios para conhecer melhor os hábitos de seus torcedores. As primeiras versões dos aplicativos apresentavam jogos de perguntas e respostas e permitiram criar um enorme banco de dados de preferências e oportunidades de consumo. As possibilidades são infinitas: o elogio de um fã a uma defesa do goleiro pode levar à oferta de ingressos para uma sessão de autógrafos com o camisa 1, por exemplo. “Nos últimos anos, passamos do último lugar para a terceira posição em venda de produtos. Somos também o clube com maior índice de renovação dos carnês de ingressos para a temporada”, afirma o executivo.
Cerca de 25% do tráfego da rede de dados do estádio nos dias de jogos decorre do aplicativo do time, que, na versão mais moderna, conta com estatísticas em tempo real e live streaming (transmissão ao vivo pela internet) das partidas em sete ângulos diferentes. Ver na hora o replay daquele pênalti polêmico alia o melhor de dois mundos — o conforto de casa e a agitação do estádio.
A estrutura desenvolvida pelos donos do Sporting Park chamou a atenção de toda a comunidade esportiva americana. Mais de 200 clubes, das mais variadas modalidades, enviaram executivos para visitar o estádio. Os donos do time criaram uma empresa, a Sporting Innovations, para desenvolver plataformas que usam as tecnologias para celulares, aliadas a bancos de dados, e geram conhecimento sobre os torcedores e novas possibilidades de faturamento.
Telão no estádio transmite o jogo e a opinião dos torcedores
Telão no estádio transmite o jogo e a opinião dos torcedores / Crédito: 
AFP
Segundo a empresa, oito dos 20 maiores clubes americanos de vários esportes já fecharam acordos para desenvolver aplicativos e equipar os estádios com a infraestrutura de conectividade necessária para permitir que os torcedores interajam com seus amigos e com os times durante as partidas. Uma dessas empresas é o Utah Jazz, da NBA, que pelos próximos cinco anos usará a tecnologia da Sporting Innovations para captar informações sobre seus torcedores. “A parceria fará com que fiquemos mais próximos de nossa torcida, facilitando o contato dela com os jogadores e com a direção do time”, comenta Craig Sanders, vice-presidente sênior de marketing do Utah Jazz. A plataforma tecnológica permite, por exemplo, acompanhar quem retuíta uma foto a partir de um celular com o aplicativo do time. Ao identificar essas pessoas como potenciais compradoras de produtos e serviços ligados àquela marca, o sistema cria novas oportunidades de negócios e amplia as possibilidades de receita.
O próprio Sporting Kansas City, onde tudo começou, é um caso de sucesso. O faturamento crescente com artigos esportivos, a grande procura por ingressos e o desempenho dentro das quatro linhas (o time tem lugar cativo nos playofs da MLS) mostram que o investimento em tecnologia para atrair e fidelizar os torcedores gera retorno e aponta um caminho que mais e mais times seguirão: pensar além das quatro linhas para oferecer uma experiência inesquecível aos seus clientes. O torcedor é o rei.

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