Por Waleed Abu al-Khair para Infosurhoy.com - 29/08/2013
CAIRO, Egito – O ativista sírio Mohammad al-Baik diz que nunca se esquecerá das horríveis imagens de crianças atingidas no ataque com armas químicas em Guta, nos arredores de Damasco, na semana passada.
Logo depois do ataque de 21 de agosto, al-Baik, integrante do comitê de coordenação local de Guta Oriental, foi a hospitais em Irbin, Jisrain, Hammuriyeh e Harasta para monitorar e documentar as mortes.
“Em geral, não havia sangue, exceto em casos raros, mas as vozes e os gritos dos feridos eram aterrorizantes”, lembra. “A maioria dos pacientes sofria convulsões e náuseas, sentia sede e não conseguia ver ou respirar, com inchaço nos lábios e ao redor dos olhos. O que mais me afetou foi ver crianças feridas e os gritos de mães que perderam familiares.”
Em 27 de agosto, a equipe da Organização das Nações Unidas na Síria que investigava o ataque
adiou sua segunda viagem à periferia de Damasco por razões de segurança.
adiou sua segunda viagem à periferia de Damasco por razões de segurança.
O presidente da França, François Hollande, também lançou fortes advertências de que os autores do ataque sejam responsabilizados, pois armas químicas são proibidas internacionalmente e muitas das vítimas eram mulheres, crianças e civis desarmados.
A França está “pronta para punir” os responsáveis pelo ataque, afirmou Hollande, acrescentando que o conflito ameaça a paz mundial.
“O que vimos na Síria na semana passada deveria chocar a consciência do mundo”, disse em 26 de agosto o secretário de Estado americano, John Kerry.
“Desafia qualquer código de moralidade”, ressaltou Kerry, descrevendo o ataque como “imperdoável” e “incontestável”.
O ministro de Relações Exteriores da Síria, Walid Muallem, negou em 28 de agosto que seu governo tenha usado armas químicas.
Crianças ‘não suportaram inalar os gases’
O Gabinete Médico Revolucionário Unificado de Guta Oriental registrou a morte de 1.302 pessoas no ataque, 70% delas mulheres e crianças, diz al-Baik.
Pelo menos 9.838 outras ficaram feridas, acrescenta.
A Fundação de Defesa dos Direitos Humanos na Síria informou, em 24 de agosto, que o regime usou armas químicas 28 vezes entre 13 de julho e 21 de agosto.
Um total de 23 incidentes foi registrado em Damasco e nos arredores, incluindo o ataque mais recente em Guta Oriental e Ocidental, que matou 1.845 pessoas e feriu 9.924, segundo a fundação.
O relatório aponta o “uso de jatos de caça, helicópteros, lança-foguetes e artilharia nos ataques, 85% deles envolvendo gás sarin”, e “indicações claras do uso de amônia e CS3 no recente ataque em Guta”.
“Médicos de campo declararam crianças mortas em ritmo acelerado, pois seus corpos pequenos não suportaram a inalação dos gases tóxicos mortais”, conta al-Baik.
Ele relata ter visto “uma substância espumosa branca nas bocas dos mortos” e “alguns corpos que incharam com incrível rapidez, como se estivessem mortos há dias”.
Equipes de resgate e equipes médicas especializadas e de voluntários na Síria não estão equipadas para lidar com esses casos, muitos deles resultados da inalação de gases tóxicos, afirma al-Baik.
Segundo o ativista, muitos dos ferimentos que viu “foram sofridos por moradores locais que correram para ajudar aqueles cujas casas foram atacadas – achando que tinha sido um ataque de artilharia convencional – e acabaram se machucando”.
O ataque começou depois da meia-noite, quando a maioria dormia, e causou confusão generalizada, segundo al-Baik.
Em Irbin, um paramédico explicou ao ativista que os medicamentos necessários para tratar esses casos estavam indisponíveis ou disponíveis somente em pequenas quantidades. Por isso, paramédicos tiveram de improvisar tratando as vítimas do ataque com água.
O médico Moussa al-Kurdi, oncologista que atua como voluntário em um hospital no norte do país com o Sindicato de Organizações de Ajuda Médica da Síria, diz que a situação em Guta é “trágica” em todos os níveis.
“Não há recursos médicos, seja em termos de número de paramédicos ou médicos, ou de suprimentos e equipamentos”, afirma, observando que interrupções de energia e telecomunicações ocorreram em várias áreas.
Testemunhos e registros médicos
O diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos, Rami Abdel Rahman, diz que sua organização documentou centenas de mortos e feridos, metade deles mulheres e crianças.
O observatório obteve testemunhos pessoais e registros médicos que confirmam que essas pessoas morreram por exposição a gases tóxicos, acrescenta Abdel Rahman.
Também “obteve vários vídeos mostrando que muitos corpos não têm traços de sangue, o que significa que foram definitivamente mortos por armas não convencionais”, segundo Abdel Rahman.
A entidade contatou todos os organismos internacionais preocupados com a questão das armas químicas para solicitar que examinem as provas coletadas, além dos depoimentos de médicos e vídeos, afirma Abdel Rahman.
“Ferimentos de gases tóxicos, particularmente causados por gás sarin, variam de um caso para outro, dependendo do grau de exposição e da resistência e idade da pessoa atingida”, explica o médico Magdy Abdel Nour, neurologista do Hospital Qasr al-Aini, em Cairo, no Egito. “O gás sarin é armazenado como um líquido incolor e insípido e se espalha rapidamente no ar em caso de explosão. Os sintomas são rápidos, pois é absorvido pelos poros da pele e pelo sistema respiratório. Seus efeitos permanecem no corpo por um longo tempo, especialmente no sistema nervoso, e causa morte instantânea se entrar no pulmão.”
Os sintomas incluem perda da visão, convulsões por todo o corpo e perda de controle, além de suor, diarreia, semicoma e, em alguns casos, coma, segundo o neurologista.
Cãibras musculares severas também podem causar a morte, diz Abel Nour.
“O sistema imunológico das crianças é mais fraco do que o dos adultos, por isso são os mais vulneráveis aos ferimentos, particularmente porque inalar meio miligrama de sarin é suficiente para matar um adulto”, diz.
Fonte:http://infosurhoy.com
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